quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Caixas eletrônicos ficam sem dinheiro nos fins de semana no Ceará

Nas cidades turísticas do Ceará e nos pequenos centros urbanos do Interior cresce a insatisfação dos visitantes em decorrência da falta de dinheiro nos caixas eletrônicos, instalados em lojas conveniadas ou postos de gasolina. A escassez acontece com maior frequência em fins de semana e feriados prolongados.

Quem busca passar o fim de semana em um dos destinos mais buscados do Estado deve levar o dinheiro em mãos para evitar desconfortos. Falta dinheiro nos caixas eletrônicos, forçando o turista a sacar com cartões de crédito em mercadinhos da região, onde pagam taxas que variam entre 10% e 20% do valor do saque.

A autônoma Maria do Carmo Oliveira diz estar passando as férias com seu esposo em Jericoacoara. Segundo ela, o casal aproveita a baixa estação para conhecer novos destinos, mas se sente incomodada pela dificuldade de saque. "Quando chegamos aqui, no sábado, trazíamos pouco dinheiro. O bastante apenas para pagar as passagens em buggy e uma ou outra eventualidade. Quando precisamos sacar, não havia onde, apenas em uma mercearia, que cobrou 15% do valor para nos entregar o dinheiro", reclamou.

Há possibilidade de que a reduzida quantidade de dinheiro disponível nos caixas eletrônicos esteja associada à onda de violência que ocorre todas as semanas em cidades do Interior, com explosões e roubo a essas unidades de atendimento dos serviços bancários. Seria, portanto, uma estratégia das agências reduzir a quantidade de cédulas. Porém, os clientes são os prejudicados diretamente.

A situação também foi vivida pela empresaria Ana Martins Pacheco. Ela ficou surpresa quando soube que precisaria ter dinheiro em "cash" para o passeio. "Ando apenas com o essencial, já que tenho receio de assaltos. Durante o fim de semana, fiquei quase restrita ao meu hotel".

Ela comenta que os comerciantes locais afirmam que essa situação não é rara. "Alguns dizem que falta dinheiro devido ao grande volume de saque de benefícios, outros porque os bancos colocam pouco dinheiro nos caixas com receio de assaltos. No fim das contas, o importante é que falta dinheiro e alguns poucos estabelecimentos se beneficiam disso. Eu prefiro ir até outra cidade sacar do que deixar meu dinheiro nos mercadinhos daqui, de graça", finalizou.

O proprietário da Pousada Juventude Familiar, Edimilson Nonato Ferreira, diz que é normal não haver dinheiro em caixas eletrônicos, instalados apenas em Jijoca. Segundo ele, o fato se dá devido ao uso constante por parte de aposentados e pensionistas que retiram seus benefícios direto do caixa eletrônico. "Em Jericoacoara, existe agência, mas só pode sacar no caixa da agência, com o funcionário, durante a semana".

Para conseguir dinheiro no fim de semana, o administrador explica que a única opção é seguir até um mercadinho dentro da vila e sacar com cartão de crédito. "Mas fica uma taxa com o estabelecimento, que varia entre 10% e 15%", alerta.

Outro empresário que preferiu não se identificar informa que até mesmo os comerciantes locais sofrem com a falta de dinheiro. Dono de uma pequena pousada, ele diz que seus hóspedes reclamam constantemente do problema, pois a maioria dos serviços locais não aceita cartão de crédito, e eles precisam de dinheiro em espécie. "Passeios de buggy ou a cavalo, algumas pousadas e alguns estabelecimentos só aceitam pagamento à vista", declara.

Ele fala também que os comerciantes locais que não possuem amizade com os donos de estabelecimento também pagam essas taxas. Porém, alguns preferem procurar o caixa eletrônico em cidades vizinhas.

A reportagem entrou em contato com alguns estabelecimentos apontados como realizadores dos saques, mas todos negaram a prática da atividade.

Crime

20% é um dos percentuais que ficam para alguns donos de mercadinhos que liberam o saque com cartão de crédito, mas cobram essa taxa ilegal

Problema exige denúncias

Iguatu.
 O presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, Carlos Eduardo Bezerra, disse que ainda não recebeu queixas sobre a reduzida quantidade de dinheiro existente em caixas eletrônicos em cidades do Ceará. "Cabe à população apresentar denúncia ao sindicato e aos órgãos competentes", observou.

Carlos Eduardo relatou, entretanto, queixa de um amigo próximo que, no fim de semana passado, na cidade litorânea de Icapuí, enfrentou a falta de dinheiro em caixas eletrônicos. Terá sido coincidência nos dois extremos do litoral cearense, Jijoca de Jericoacoara e em Icapuí, destinos turísticos do Estado, o mesmo fato ocorrer no fim de semana prolongado pela data de 7 de setembro?

O Sindicato dos Bancários orienta que denúncias podem ser encaminhadas ao Banco Central, às unidades do Decom ou Procom e ao Ministério Público. As agências bancárias têm o dever de ofertar o serviço com regularidade aos clientes, segundo o Código de Defesa do Consumidor. Se verificada a constante escassez de dinheiro, ocorre prejuízo para quem precisa do serviço, segundo explicou.

As estatísticas mostram o crescimento da violência praticada contra agências bancárias e caixas eletrônicos em cidades do Interior do Estado. O destemor dos ladrões faz com que eles utilizem métodos cada vez mais agressivos como a explosão das unidades com uso de dinamite ou sequestro de parentes dos gerentes das agências bancárias.

O fenômeno crescente da insegurança vem ocorrendo também na zona rural. Moradores e comerciantes de vilas, distritos e de comunidades isoladas agora vivem assustados e são vítimas da onda de violência. Nessas localidades, há serviço de pagamento de boletos, faturas, benefícios sociais, contas de luz, em caixas rápidos instalados em lojas comerciais. São os correspondentes bancários, que passaram a ser alvo dos criminosos.

A expansão do serviço bancário, antes restrito às cidades, chegou à zona rural com instalação de postos avançados que realizam serviços diversos de pagamentos e recebimentos. O crescimento populacional e a expansão do comércio não foram acompanhados, entretanto, por investimentos em segurança pública, que ficaram restritos e com série deficiências às cidades.

Alguns comerciantes desistiram da instalação do serviço temendo assalto, mas outros, mesmo com medo, enfrentam a situação e mantém em funcionamento os caixas rápidos. Na Vila São Pedro, zona rural de Jucás, o comerciante Flávio Bezerra foi taxativo: "Não dá lucro, mas atrai clientes e existe a prestação de serviço para os moradores". O empresário Valdeci de Souza pensa diferente: "Tínhamos um posto do Banco Popular do Brasil, mas resolvemos fechar com medo da insegurança depois que o Posto da Polícia Militar foi desativado e os policiais foram embora".

O presidente da Associação de Bancos do Estado do Ceará (Abance), Francisco José Mateus, inicialmente, informou que a responsabilidade da segurança pública é do Estado, que tem o dever de coibir as ações de assalto e roubo às agências e unidades de serviços bancários. Ele negou que houvesse uma estratégia por parte dos bancos em deixar reduzido número de cédulas temendo as ações dos ladrões. "Não se pode prejudicar uma população e os bancos não fariam isso", frisou. Mateus ficou de repassar mais esclarecimentos, mas até o fechamento desta edição não retornou a ligação.

Fonte: Diário do Nordeste

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