quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Ceará registra 18 mil casos de AVC por ano

Depois de passar por uma situação de grande estresse a dona de casa, Nilda Santana, sentiu uma forte dor de cabeça e deitou-se para descansar. Na madrugada, acordou com um lado do corpo dormente e, aos poucos, foi perdendo os movimentos da mão. A boca entortou e o olho começou a pesar. Ela logo entrou em contato com os filhos para informar o que estava acontecendo. Assustados, eles levaram imediatamente a mãe ao hospital. Graças à rapidez do atendimento e do diagnóstico, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido pela dona de casa não deixou sequelas. Como Nilda, anualmente, 18 mil cearenses são vítimas da doença.
Desses pacientes, 25% vão ao óbito; 25% estão severamente incapacitados ou restritos ao leito; 25% estão moderadamente incapacitados e só 25% em condições de voltar ao trabalho. Também conhecido como derrame, o AVC é a maior causa de morte no Brasil. Em mulheres, faz mais vítimas do que o câncer de mama e de colo do útero. Já entre os homens, os índices superam os do câncer de próstata. “Uma tragédia que precisa ser enfrentada”, adverte o neurologista João José Carvalho, coordenador da Unidade de Tratamento e Prevenção de AVC do Hospital Geral de Fortaleza.
DOENÇA E TRATAMENTO
Segundo Carvalho, o AVC é uma doença caracterizada pela perda súbita de uma ou mais funções neurológicas secundárias e pelo comprometimento do fluxo sanguíneo cerebral. Para discutir os mais recentes avanços no tratamento das enfermidades cerebrovasculares, como o AVC, Fortaleza recebe, a partir de amanhã até sábado, dia 16, 2.500 profissionais da saúde para o IX Congresso Brasileiro de Doenças Cerebrovasculares, no Centro de Eventos do Ceará.
O Ceará, é atualmente, o primeiro estado brasileiro a introduzir o tratamento trombolítico para pacientes com AVC e está montando uma coordenação específica para as ações de enfrentamento à doença, o Comitê de Atenção às Doenças Cerebrovasculares, que já tem unidades em funcionamento no Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e no Hospital Regional do Cariri (HRC).
“Nossa meta é muito ousada. Em 2015 nenhum cearense estará a mais de 100 quilômetros de uma unidade de AVC”, diz o neurologista João José de Carvalho, chefe da unidade de AVC do HGF e presidente do IX Congresso Brasileiro de Doenças Cerebrovasculares.
PRINCIPAIS CAUSAS
92% dos casos de AVCs podem ser evitados e, mesmo que ocorram, há chances de diminuir em 30% as mortes e, em 50%, a incapacitação decorrente. Para prevenir o Acidente é preciso conhecer os fatores de risco e as principais causas, a fim de, evitá-las. Colesterol elevado, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, enxaqueca, sedentarismo, obesidade, o uso de anticoncepcionais hormonais e a ingestão abusiva de bebidas alcoólicas estão entre os fatores que comprometem a circulação sanguínea e podem contribuir para o entupimento ou rompimento dos vasos.
SEM SEQUELAS
Por conta dos altos índices de pessoas vítimas da doença e das graves sequelas, a unidade de AVC do HGF investe na reabilitação precoce por meio de uma equipe multidisciplinar. São médicos neurologistas, enfermeiros capacitados para tratar de AVC, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Com esse esforço, os profissionais reduzem em mais de 30% as sequelas dos pacientes.
Segundo Carvalho, o que também contribui para a redução das possíveis sequelas é o trombolítico (aplicação de medicações por via endovenosa que desfazem o trombo que se formou na artéria afetada). A medicação deve ser ministrada nos casos em que o paciente chega até 4 h e meia do início dos primeiros sintomas. Depois de nove dias tem uma melhora significativa. “Esse ano, 22% dos pacientes já usaram trombolítico”, acrescenta.
Graças à rapidez no atendimento e no diagnóstico, dona Nilda não teve sequelas. Segundo a dona de casa, que ficou internada no HGF, ela ficou por alguns dias sem os movimentos das mãos, porém, com os medicamentos e a equipe interdisciplinar que a acompanhou, tudo foi revertido. “Passei cinco dias sem os movimentos, mas fiz fisioterapia durante o meu internamento e logo recuperei meus movimentos. Já voltei até a fazer minhas atividades de casa e o crochê”, comentou feliz.
SESA TEM PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL E REGISTRO ESTADUAL DE AVC
A Secretaria da Saúde do Estado iniciou, em agosto deste ano, a segunda etapa do Programa de Atenção Integral e Integrada ao Acidente Vascular Cerebral no Estado do Ceará, envolvendo 32 hospitais e 36 clínicas radiológicas de Fortaleza que iniciaram a implantação do Registro Estadual de AVC, que disciplina a notificação compulsória da doença no Ceará. Na primeira etapa do estudo, a mortalidade por AVC, em Fortaleza, caiu 17% e diminuíram em 32% as complicações em consequência da doença.
O Programa, desenvolvido nas vertentes epidemiológica, assistencial e educativa, iniciou as ações de vigilância epidemiológica em 2006, com o georreferenciamento de todas as mortes por AVC em Fortaleza. Em 2009, foi iniciado o estudo hospitalar, envolvendo 19 hospitais da Capital. Identificados por concentrar mais de 90% das mortes por AVC, esses hospitais foram visitados por uma equipe de seis pesquisadores que realizaram a busca ativa de novos casos. No total, foram identificados 4.686 casos.
Em outubro de 2009, a Unidade de AVC do HGF foi inaugurada e atendeu 1.400 pacientes no primeiro ano de funcionamento. Por ano, segundo João José de Carvalho, a Unidade de AVC do HGF, a maior do País, reduz em 30% a mortalidade causada pela doença e, em 50%, as incapacitações das vítimas. Em números absolutos, evita cerca de 150 mortes e 400 pacientes ficam livres de sequelas graves.
Fonte: O Estado

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