O réu Luiz Henrique
Romão, o Macarrão (Foto: Douglas Magno/UOL)
O réu Luiz Henrique Romão, o Macarrão, responsabilizou o
goleiro Bruno Souza pelo desaparecimento de Eliza Samudio em depoimento na
madrugada desta quinta-feira (22) no Tribunal do Júri de Contagem (região
metropolitana de Belo Horizonte). O acusado foi interrogado por mais de cinco
horas. O júri será retomado às 13h30, com o interrogatório da ré Fernanda de
Castro, ex-amante de Bruno.
Segundo Macarrão, em 10 de junho de 2010,
Bruno pediu para que ele levasse a vítima do sítio em Esmeraldas (MG) para um
ponto em frente à Toca da Raposa, centro de treinamento do Cruzeiro na
Pampulha, em Belo Horizonte. Lá, uma pessoa estaria esperando por Eliza para
matá-la.
O réu afirmou sentir um "clima
estranho" quando Bruno lhe pediu para que levasse Eliza, em sua Ecosport.
“Eu disse `cara, me conta que o tá acontecendo´”, relata Macarrão. “”Qualquer
coisa que acontecer todo mundo vai me culpar”, teria afirmado ao amigo.
Segundo Macarrão, Bruno respondeu, batendo no
peito. “Larga de ser bundão, é comigo. Aqui é o Bruno”. O acusado diz que
tentou argumentar, mas Bruno não o ouviu. “Eu disse: `não nasci para isso,
não´”. Na sequência, ele teria aceitado levar Eliza por ser subordinado a
Bruno.
“Tô indo sim, como seu funcionário, mas quero
que você saiba que você está acabando com a sua carreira”, relatou Macarrão.
Questionado pela juíza Marixa Fabiane se
"pressentia" que Bruno estava pedindo para levar Eliza com o objetivo
de matá-la, Macarrão respondeu que sim.
O réu afirma que não viu o que aconteceu
depois, pois saiu do lugar rápido, por estar assustado, com medo.
Indagado por Marixa sobre como convenceu
Eliza a entrar no carro e sair voluntariamente, ele disse que foi Bruno quem
tratou disso com ela, prometendo que Macarrão iria levá-la até um apartamento
que o goleiro havia comprado para ela.
Segundo o interrogado, depois de deixar
Eliza, eles voltaram para o sítio, onde chegaram por volta de 22h. Lá, diz ele,
todos estavam tranquilos, exceto ele, que estava apavorado.
Fim de amizade com Bruno
“Se tem alguém que acabou com a minha vida, foi ele”, disse Macarrão, chorando muito, referindo-se a Bruno.
“Se tem alguém que acabou com a minha vida, foi ele”, disse Macarrão, chorando muito, referindo-se a Bruno.
“Sei que vou tomar nome de `X-9´ (apelido
dado a delatores), que vou ser um arquivo vivo, mas minha família tá sofrendo,
minha filha tá crescendo, tenho medo de perder tudo o que hoje faz parte da
minha vida, que é minha família”, disse.
“Acabou isso tudo. Ninguém vai mais me colocar
como um monstro. Eu pedi de coração para ele, conversei como irmão, como homem,
para ele não fazer isso, para ele deixar isso pra lá. Todo mundo acha que fui
eu, que eu sou um monstro. Sou um cara tranquilo, que trabalhava no Ceasa, como
carregador de carinho, e que terminou como conferente. Nunca machuquei ninguém,
não sou monstro, não sou traficante”, disse Macarrão, chorando.
Em seguida, perguntado pela magistrada, ele
disse temer pela sua vida e de sua família.
O réu ainda pediu desculpas a Wemerson
Marques Souza, amigo dele e de Bruno, Elenílson Vítor da Silva, ex-caseiro do
sítio do goleiro, Fernanda Castro, ex-amante do atleta, além de Sônia Fátima de
Abreu, mãe de Eliza.
“Se a mãe de Eliza ainda estiver aqui (no plenário), quero deixar claro que se eu soubesse onde o corpo dela tá, seria a primeira pessoa a assumir”, disse --ela já tinha ido embora quando ele fez a declaração.
“Se a mãe de Eliza ainda estiver aqui (no plenário), quero deixar claro que se eu soubesse onde o corpo dela tá, seria a primeira pessoa a assumir”, disse --ela já tinha ido embora quando ele fez a declaração.
Promotor e advogados perguntam
Questionado pelo promotor Henry Castro, o réu
negou que seja homossexual, o que chegou a ser especulado na mídia, e que,
mesmo assim, não entregou Bruno."Eu sempre segurei a onda, apesar de ter
sido chamado de homossexual", disse Macarrão.
Macarrão afirma que processa por danos morais
o ex-advogado de Bruno Rui Pimenta, que teria afirmado ser o réu homossexual, o
que lhe prejudicou no relacionamento com outros detentos do presídio Nelson
Hungria. O réu disse ainda que a amizade com Bruno "acabou aqui
hoje".
O promotor questionou Macarrão sobre ligações
trocadas entre ele e o ex-policial Bola, no dia da suposta morte de Eliza
Samudio (10 de junho de 2010). O réu afirma que não manteve contato visual com
Bola, apenas conversou com ele, por telefone, sobre a possibilidade de o filho
do ex-policial fazer um teste em time de futebol.
Ao longo do interrogatório, o promotor também
indagou Macarrão em vários momentos sobre as ligações e torpedos que recebeu de
Dayanne ce Souza, ex-mulher de Bruno, e outras pessoas envolvidas no
desparecimento de Eliza depois que as investigações começaram.
O promotor também perguntou a Macarrão sobre
uma carta revelada pela revista "Veja", em julho deste ano, sobre
suposto pedido de Bruno para que ele assumisse a morte de Eliza Samudio. No
texto, o pedido foi intitulado de "plano b". Macarrão disse que,
apesar de não ter recebido a carta, supôs que se tratava de pedido do goleiro
para ele assumir o crime. "Eu não li a carta, mas acredito que seja
isso", disse.
Macarrão afirmou que tem medo de Bruno,
depois de pergunta do assistente de acusação José Arteiro, mas negou temer
Bola.
Réu nega sequestro de Eliza
Macarrão também negou que tenha sequestrado
Eliza. Segundo ele, em 4 de junho de 2012, Eliza estava hospedada no Hotel
Transamérica, na zona oeste do Rio de Janeiro, porque tinha ido à cidade a pedido
de Bruno, para que ele pudesse conhecer o filho Bruninho.
De acordo com o réu, Eliza estava irritada e
fez várias ligações para o seu celular no mesmo dia. Ele, então, foi até o
hotel para acalmá-la. Macarrão disse que estava acompanhado de Jorge Rosa -- na
época, menor, e que confessou à polícia a morte de Eliza.
Ainda de acordo com Macarrão, os dois
deixaram o hotel e foram até um restaurante chamado Rosas, que fica próximo ao
hotel, para jantar. Lá, encontraram Eliza, que voltou a cobrá-los sobre o
dinheiro da pensão, de acordo com o depoente.
Os três, diz o acusado, entraram na Land
Rover de Bruno para levar Eliza de volta ao hotel, mas ela se recusou a voltar
para o estabelecimento. “Hora nenhuma eu peguei ela e sequestrei. Ela não
queria ir para lá (para o hotel)”.
Briga com o menor
No caminho, ela continuou reclamando da falta
de dinheiro, o que irritou o menor. Ele, segundo Macarrão, deu uma cotovelada
no nariz de Eliza, que provocou o sangramento que manchou o banco do carro.
“Jorge deu uma cotovelada, ele estava no
banco do carona”, disse. “Eu disse a ele: `viu o que você fez? Essa mulher vai
acabar com a vida do Bruno, cara. Amanhã ela tá na imprensa.”
Segundo a acusação, o sangue encontrado pela
perícia no carro era fruto de uma coronhada que o menor efetuou na cabeça de
Eliza. “Quero deixar bem claro que eu nunca andei armado. Nunca houve essa
fantasia de arma.”
Macarrão disse ter comprado um remédio para
Eliza e a levado para a casa de Bruno no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste
do Rio. "Mas sem ter sequestrado ela", disse. Em seguida, ele diz ter
ligado para Fernanda Castro, ré no mesmo processo, por medo de que o primo do
goleiro ficasse sozinho com Eliza na casa.
"Em hora nenhuma eu coloquei a Fernanda
para vigiar a Eliza ou tomar conta da criança", disse Macarrão, para
complementar: "Meu medo era que o Jorge [primo do goleiro] fizesse algo
contra ela [Eliza].
Viagem para Minas
Macarrão disse ter convidado Fernanda Castro
para ir a Minas Gerais para conhecer os jogadores do time 100%, que era bancado
por Bruno, em Ribeirão das Neves (MG). Enquanto Macarrão dirigia a Land Rover,
Bruno foi em outro veículo. "Nós sempre viajamos com dois carros",
disse.
Antes de partir, o reú afirmou ter ouvido do
goleiro Bruno que Eliza teria pedido a ele R$ 50 mil. "Ela não confiava na
gente, por isso quis viajar com a gente para pegar o dinheiro", afirmou.
Macarrão afirmou que havia R$ 30 mil no sítio
de Bruno em Esmeraldas (MG), dinheiro que seria usado para bancar uma viagem do
time 100%. “O Bruno se dispôs a dar esse dinheiro para ela.”
No trajeto do Rio de Janeiro a Minas Gerais,
diz Macarrão, eles chegaram a dar carona a um policial e Eliza comprou um
energético em um posto. “Como uma pessoa sequestrada faz isso?”
Noite no motel
O depoente disse ter pernoitado em um motel
onde ele e Jorge (primo do goleiro) sempre normiam, localizado em Contagem
(MG). Lá, Bruno teria dito que iria para a casa da avó, em Ribeirão das Neves
(MG). Eliza e o bebê teriam dormido em um cômodo no andar de baixo do quarto do
motel. "Eu vim em poucas horas do Rio de Janeiro. Nós tomamos umas cinco
multas", disse.
Luiz Henrique Romão disse ter notado a
presença de Sérgio Rosa Salles, outro primo de Bruno, no motel. Ele teria ido
ao local no carro de Bruno.
Para o acusado, "por controlar" o
dinheiro do goleiro, tinha contra si a ira de Salles e de Jorge, dois primos do
ex-goleiro. "Eles me chamavam de puxa-saco, ladrão. Eu não andava com o
Sérgio, não andava com o Jorge."
Sítio em Esmeraldas (MG)
Sítio em Esmeraldas (MG)
Macarrão disse ter levado Eliza para ver um
jogo do time 100% no sítio em Esmeraldas (SP) porque queria que os amigos
conhecessem seu filho. "Bruno apresentou o Bruninho [filho dele com Eliza]
para todo mundo ver. Eu deixei a chave do carro com ela", afirmou.
Depois, o réu disse ter se dirigido a um bar
na cidade de Ribeirão das Neves para uma confraternização dos jogadores do time
100%. Na sequencia, diz ter ligado para quatro mulheres, com "quem estava
acostumado a ficar" para irem ao sítio de Bruno.
As mulheres dormiram no sítio, onde Fernanda
Castro teria passado a noite com o jogador. Já Eliza ocupou um quarto contíguo
à churrasqueira, descreveu Macarrão, que teria dormido com uma das garotas,
segundo o próprio.
No dia seguinte, Macarrão afirma ter voltado
ao sítio de Bruno, onde ficou até quinta-feira, 10 de junho, quando Bruno lhe
pediu para levar Eliza até a Toca da Raposa.
Fonte: UOL
Fonte: UOL
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