Advogados de Bola abandonaram júri após discordarem
de prazo da juíza.
6 mulheres e 1 homem decidirão se Bruno é culpado pela morte de Eliza.
Bruno conversa com seu advogado, Rui Pimenta,
durante o primeiro dia de júri (Foto: Vagner Antonio / TJMG)
O primeiro dia do júri popular do caso Eliza
Samudio, realiado nesta segunda-feira (19) no Fórum de Contagem, em Minas
Gerais, foi marcado pela atuação dos advogados de Marcos Aparecido dos Santos,
o Bola, que abandonaram o plenário, e pelo primeiro depoimento de testemunha de
acusação, Cleiton Gonçalves, ex-motorista do goleiro Bruno Fernandes, principal
acusado. Também foram definidos seis mulheres e um homem como jurados do caso.
Bruno e mais três réus vão a júri popular por cárcere privado e morte da
ex-amante do jogador, Eliza Samudio, em crime ocorrido em 2010. O júri é
presidido pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, e a previsão é que o
julgamento dure pelo menos duas semanas.
A Promotoria acusa o jogador, que era titular do Flamengo, de ter arquitetado
o crime para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão
alimentícia.
O júri, que teve início com cinco acusados, deverá continuar com apenas
quatro no banco dos réus. Bola, acusado de ser o executor de Eliza, recusou ser
defendido por um defensor público, e será julgado em outra data.
Para mim [Bruno] é
uma boa pessoa"
Cleiton Gonçalves, ex-motorista de Bruno
Ex-motorista fala sobre 'Eliza já era'
Passava das 17h quando a primeira testemunha do caso – Cleiton Gonçalves,
ex-motorista de Bruno – começou a ser ouvida. Arrolado pela acusação, feita
pelo promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, e confirmou à juíza que ouviu
de Sérgio Rosa Sales, primo do goleiro, que "Eliza já era". A
declaração, segundo a testemunha, foi dada em 10 de junho de 2010, data
apontada como dia da execução da ex-amante de Bruno. "Eu nem procurei
saber o que ele tava falando", disse ao júri.
Durante a investigação policial, Cleiton Gonçalves foi baleado de
raspão, no dia 26 de agosto de 2012, e teve seu carro atingido por disparos no
dia seguinte. Os ataques aconteceram quatro dias depois da morte de Sérgio Rosa Sales.
Na época, o delegado Wagner Pinto disse que as tentativas de homicídio estavam relacionadas a morte de um homem
ocorrida em uma churrascaria, dentro de um posto de gasolina, em
Contagem, no dia 2 de março deste ano. Cleiton chegou a ser preso,
mas foi liberado. O advogado da testemunha também disse que a motivação das
tentativas de homicídio não tinha relação com o caso.
Rui Pimenta, advogado de Bruno, perguntou ao ex-motorista se ele
considerava o goleiro um "bom homem". "Para mim é uma boa
pessoa. Eu nunca presenciei [ele fazendo mal]", disse a testemunha,
acrescentando que Bruno "nunca mostrou ser desequilibrado".
O depoimento de Cleiton Gonçalves à polícia foi lido durante a sessão.
Segundo a denúncia, o ex-motorista esteve com Bruno nos dias em que Eliza era
mantida em cárcere privado no sítio do atleta, em Esmeraldas (MG). No dia 8 de
junho de 2010, ele estava com os primos de Bruno, Sérgio Rosa Sales e Jorge
Luiz Lisboa Rosa, quando o carro do goleiro foi apreendido pela Polícia Militar
em uma blitz por causa de documentação irregular. No veículo, que havia sido
usado para transportar Eliza do Rio de Janeiro para Minas Gerais, foram
encontrados vestígios de sangue. O ex-motorista negou ter visto manchas de
sangue no carro.
Bruno ri durante depoimento
O goleiro Bruno alternou risos e expressões sérias durante
a primeira sessão. Sem algemas, direito de todos os réus em júri popular, o
jogador mexeu no queixo, reclinou a cabeça em direção aos joelhos, mas, na
maior parte do tempo, ficou parado, de queixo erguido e olhar atento a tudo que
acontecia no julgamento.
Bruno riu em alguns momentos do depoimento do amigo e ex-motorista
Cleiton Gonçalves. ÀUm dos motivos foi o comentário da testemunha ao responder
para o promotor do caso por que foi o único que não reconheceu Fernanda Castro,
uma "gostosa", nas palavras do acusador. "O Bruno teve várias
louras", disse.
Pouco antes, o goleiro e a ex-mulher Dayanne Rodrigues riram juntos
quando o ex-motorista afirmou não ter visto um dos jogos do time de Bruno
porque "quem bebe não vê jogo". Nesse momento, o jogador esfregou os
olhos após gargalhar.
Os
jurados vão ficar confinados até o final do julgamento e não podem conversar
entre si sobre o caso.
Júri tem seis mulheres e um homem
Seis mulheres e um homem foram escolhidos pelas defesas e pela
acusação para compor o Conselho de Sentença. O grupo que
decidirá o destino do goleiro Bruno e dos demais réus fez o juramento de que
vai analisar o caso com imparcialidade. Os demais convocados, que não foram
escolhidos para compor o júri, foram dispensados e deixaram o plenário. O corpo
de jurados é formado por sete pessoas, todos cidadãos maiores de 18 anos que
residem em Contagem (MG). Eles não podem ter antecedente criminal ou parentesco
com os acusados.
Uma jurada chorou ao comunicar parentes do confinamento e emocionou a
juíza. "Eu tenho vontade de chorar no júri quando penso que vou ficar
tantos dias longe dos meus filhos amados", disse Marixa Fabiane. Os
jurados vão ficar confinados até o final do julgamento e não podem conversar
entre si sobre o caso. A acomodação e alimentação são custeadas pelo Tribunal
de Justiça de Minas Gerais, que prevê um gasto de R$ 35 mil com o júri.
Advogado de Bola abandona júri
Ércio Quaresma e Zanone de Oliveira Júnior, responsáveis pela defesa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, abandonaram o júri do caso Eliza Samudio antes do intervalo da sessão por discordarem do limite de 20 minutos estipulado pela juíza para cada defesa apresentar seus argumentos preliminares. "A defesa não vai continuar nos trabalhos, nós não vamos nos subjugar à aberração jurídica de impor limites onde não há", disse Quaresma.
Ércio Quaresma e Zanone de Oliveira Júnior, responsáveis pela defesa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, abandonaram o júri do caso Eliza Samudio antes do intervalo da sessão por discordarem do limite de 20 minutos estipulado pela juíza para cada defesa apresentar seus argumentos preliminares. "A defesa não vai continuar nos trabalhos, nós não vamos nos subjugar à aberração jurídica de impor limites onde não há", disse Quaresma.
Leonardo Diniz, advogado de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão,
também chegou a anunciar sua saída, mas voltou atrás quando a sessão foi
retomada. "Conversando com meu cliente, nós vimos que não seria bom adiar
[...] Primeiro realmente nós resolvemos sair, mas depois, vimos que o direito
de decidir é dele. Ele merece uma defesa".
Com a decisão dos advogados do ex-policial, a juíza declarou Bola
indefeso. Ele não aceitou ser representado por um defensor público e, com isso,
terá dez dias para nomear um novo advogado. A manobra foi festejada pela defesa,
que deixou o Fórum de Contagem feliz com o possível desmembramento do
julgamento do cliente.
A equipe afirmou que não vai abandonar a defesa de Bola. "Eu sou
advogado do Marcos e sempre continuarei sendo, e não é essa juíza que vai me
tirar isso. Não abandonei o homem, abandonei o plenário", disse Ércio
Quaresma.
Rui Pimenta, advogado do goleiro Bruno, disse que não iria abandonar o cliente.
"O Bruno está esperançoso. O Bruno está cansado de cadeia, doido pra sair
e comer uma picanha mal passada. Pra isso, ele precisa de um alvará de soltura.
Por isso vamos continuar no júri". Ele disse que o possível desmembramento
do processo favorece Bruno porque diminui o tempo de julgamento. "Acho
que, assim, não dura mais que quatro dias", afirmou.
Ao falar sobre o caso, o presidente da Associação dos Magistrados
Brasileiros (AMB), Nelson Calandra, disse que abandono do júri por um advogado é
"grave ofensa ao Estado brasileiro". "Se ele acha
que 20 minutos é pouco para ele falar, poderia argumentar e questionar
posteriormente. Não dar as costas, deixando seus defendidos totalmente
indefesos. Isso sim é violar o compromisso da defesa".
Já o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, defendeu a atitude tomada pelos
advogados. "Vinte minutos num processo dessa natureza é
pouco para imprimir teses. Deveria haver maleabilidade por parte da juíza
presidente do júri, na medida em que se está buscando a ampla defesa, a
liberdade, diminuir a participação de cada um dos acusados no evento".
Macarrão passa mal
Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, foi retirado do plenário, logo após a sessão ser reiniciada, a pedido do seu defensor. Ele disse à juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues que o réu estava passando mal e perguntou se o acusado poderia sair por alguns minutos. A juíza aceitou o pedido e Macarrão foi retirado da sala. O réu não voltou mais para a sessão.
Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, foi retirado do plenário, logo após a sessão ser reiniciada, a pedido do seu defensor. Ele disse à juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues que o réu estava passando mal e perguntou se o acusado poderia sair por alguns minutos. A juíza aceitou o pedido e Macarrão foi retirado da sala. O réu não voltou mais para a sessão.
Tudo resolvido? Fico feliz de
não ter que intervir nessa questão tão
Desentendimento entre advogados
Os advogados Rui Pimenta, que defende o goleiro Bruno, e Ércio Quarema, responsável pela defesa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, discutiram logo no início da sessão por causa de seus lugares no plenário. Quaresma disse que Pimenta tomou o seu lugar. "Ele foi lá e tirou minhas coisas", afirmou à juíza, pedindo "elegância" ao colega.
Os advogados Rui Pimenta, que defende o goleiro Bruno, e Ércio Quarema, responsável pela defesa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, discutiram logo no início da sessão por causa de seus lugares no plenário. Quaresma disse que Pimenta tomou o seu lugar. "Ele foi lá e tirou minhas coisas", afirmou à juíza, pedindo "elegância" ao colega.
"Se os senhores não resolverem, eu vou ter que ir lá
resolver", afirmou Marixa Fabiane Lopes Rodrigues durante a confusão.
"Tudo resolvido? Fico feliz de não ter que intervir nessa questão tão
pequena", declarou depois que o desentendimento foi encerrado.
Manifestações
Cerca de 40 integrantes de um grupo chamado União Brasileira de Mulheres chegaram ao Fórum de Contagem, durante a manhã, carregando cruzes com os nomes de mulheres que, segundo eles, foram assassinadas por maridos e amantes. Mais tarde, eles fizeram enterro simbólico de Eliza Samudio, em jardim na frente do Fórum de Contagem.
Cerca de 40 integrantes de um grupo chamado União Brasileira de Mulheres chegaram ao Fórum de Contagem, durante a manhã, carregando cruzes com os nomes de mulheres que, segundo eles, foram assassinadas por maridos e amantes. Mais tarde, eles fizeram enterro simbólico de Eliza Samudio, em jardim na frente do Fórum de Contagem.
Vestido de papai noel, Valdeciro Bispo, de 39 anos, realizou uma
manifestação solitária sem relação com o caso Eliza Samudio, após viajar 700 km
desde Rio Pardo de Minas, no norte do estado. Ele segurou uma faixa com os
dizeres: "Ajude o papai noel e encontrar 1 prefeito e 3 vereadores não
corruptos para a cidade de Rio Pardo de Minas. Pois os que foram eleitos por lá
estão sendo investigados pelo Ministério Público suspeito de compra de
votos".
Antes do início do júri, um grupo de curiosos já se reunia na
porta do FórumDoutor Pedro Aleixo. A estudante de direito
Cláudia Muzzi, de 32 anos, foi a primeira a chegar. Ela veio de Itaúna (MG)
para acompanhar o caso, e se diz apaixonada por julgamentos. "Eu assisto a
vários júris em outras cidades". Ela arriscou que Bruno vai ser condenado
pela comoção social causada pelo crime.
Fonte: G1
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