Uma toxina
encontrada no veneno da cobra cascavel poderia aumentar a sobrevida de casos de
câncer de pele em até 70%, segundo um estudo feito com camundongos pelo
Instituto Butantan, em São Paulo.
Segundo a
geneticista Irina Kerkis, que coordenou a pesquisa, a grande vantagem da
proteína crotamina é que, na dose certa, ela distingue células normais das
cancerosas e consegue entrar dentro destas, com um efeito que dura até 24
horas. Isso permitiria que a substância fosse administrada apenas uma vez por
dia, reduzindo os efeitos colaterais da quimioterapia.
"A crotamina
inibe o crescimento das células alteradas e as mata. Em alguns casos, o câncer
praticamente desapareceu", conta a geneticista, que orientou o trabalho do
doutorando da Universidade de São Paulo (USP) Alexandre Pereira, na área de
biotecnologia.
A toxina retirada
dessa espécie de cobra peçonhenta (Crotalus durissus), que tem um chocalho na
cauda e é natural do continente americano, vem sendo estudada desde 2004, mas
para outras aplicações. Desde 2009, por meio desse estudo, é que os cientistas
analisaram seus efeitos contra o câncer.
Primeiro, foram
observadas células humanas e animais isoladas, com ação em tumores de mama e
pulmão, por exemplo. Na fase seguinte, com 70 camundongos, os autores – que
publicaram o estudo no ano passado na revista britânica "Expert Opinion on
Investigational Drugs" – viram que a crotamina foi eficiente na contenção
de melanoma, um tipo menos comum de câncer de pele, mas extremamente agressivo,
pois se espalha rapidamente para outros órgãos.
Segundo Irina, os
testes clínicos com seres humanos devem começar em cerca de dois anos, e dentro
de cinco é possível ter um novo medicamento contra o melanoma.
"Os fármacos
tradicionais usados na quimioterapia têm grande impacto nas células saudáveis,
com muitos efeitos colaterais. Já a crotamina é inofensiva para elas. Além
disso, é mais facilmente diluída em água, o que facilita a administração
injetável", explica.
O estudo deve
continuar agora a pesquisar outras formas de aplicação dessa toxina, por meio
de uma "bomba" embaixo da pele que solta a substância em pequenas
quantidades durante algumas semanas. Assim, o composto não entra na corrente
sanguínea, o que minimiza seu impacto no organismo.
Outro benefício,
de acordo com Irina, é que a crotamina das cascavéis não tem o efeito
emagrecedor visto nos quimioterápicos normais. Nos testes com cobaias, a
proteína mostrou que consegue fazer o indivíduo manter o peso.
A geneticista
destaca, ainda, que a substância é uma ferramenta biotecnológica poderosa, que
pode ajudar também no diagnóstico do câncer. Isso porque, quando entra nas
células cancerosas, a crotamina vira um marcador que detecta o crescimento do
tumor e casos de metástase.
"Estamos
otimistas, mas ainda é uma pesquisa", ressalta a geneticista.
Segundo ela, uma
espécie de escorpião também tem veneno com propriedades parecidas às da
crotamina, mas ainda não há pesquisas relacionando o composto com tratamento de
câncer.
Fonte:Portal G1
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