quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Criadouro de tartarugas nas Ilhas Cayman é denunciado pela WSPA


A superlotação dos tanques é o grande problema do criatório, segundo especialistas da organização

Depois de seis meses de denúncia de maus-tratos a tartarugas nas Ilhas Cayman, no Caribe, a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) avançou nas negociações para frear o sofrimento no criadouro Cayman Turtle Farm (CTF). Em reunião, na semana passada, representantes do criadouro prometeram fazer mudanças no local.

"Estamos entrando em uma fase de diálogos mais diretos com o CFT para a resolução dos problemas mais urgentes. No entanto, isso não irá alterar o nosso objetivo final, que é mudar a dinâmica operacional do criadouro", diz Neil D´Cruze, especialista em Vida Selvagem da WSPA.

Para Neil D´Cruze, não existe qualquer modelo humanitário de criação de tartarugas marinhas para fins de alimentação. Isso significa que os métodos de produção intensiva empregados pelo criadouro são os maiores causadores dos elevados índices de mortalidade entre os animais locais, que também apresentam lesões cutâneas e praticam o canibalismo, segundo relatório feito pela WSPA no CTF.

"Embora estejamos satisfeitos com o resultado do encontro, continuamos a crer que melhorias apenas pontuais não irão diminuir a causa principal do sofrimento destes animais: tartarugas marinhas são seres selvagens", afirma Neil D´Cruze.

Segundo o especialista da WSPA, tartarugas marinhas são selvagens e solitárias. Portanto, elas não conseguem se adaptar a ambientes onde sejam obrigadas a viver amontoadas com até outros nove mil animais da mesma espécie. Por isso, elas mutilam umas às outras.

Inspeções

Desde julho de 2012, a WSPA tem apresentado provas de maus-tratos dos animais. Mas, segundo seus ativistas, a administração do CTF não se pronunciou a respeito, além de publicamente rejeitar e ironizar as reivindicações da WSPA, qualificando-as de "sem fundamento, erráticas e sensacionalistas".

Isso começou a mudar na semana passada, quando a WSPA divulgou dois novos relatórios de especialistas em tartarugas marinhas que confirmam a gravidade dos maus-tratos a que são submetidos os animais do CTF, atração turística mais popular das Ilhas Cayman. Segundo a organização, os relatórios revelam que, há mais de seis meses, a administração do lugar tem ciência dos sofrimentos dos animais.

Doenças

A gerente de Programas Veterinários da WSPA Brasil, Rosângela Ribeiro, explica que além do desconforto para os animais, o excesso de tartarugas por tanque dificulta a limpeza, facilitando a proliferação de doenças que podem atingir até mesmo os turistas. Ainda segundo suas informações, trata-se da tartaruga-verde, uma espécie ameaçada de extinção, que, em várias partes do mundo, tem a comercialização e o consumo proibidos, como no Brasil. O criatório em questão é o único no mundo, e tem licença em seu país. "Neste caso, estamos questionando as condições do criatório", declara.

A WSPA reconhece que, recentemente, o CTF adotou medidas visando reduzir o risco de transmissão de doenças aos turistas, em decorrência do manuseio de tartarugas em tanques. "Estamos aguardando os resultados de um relatório científico aferindo tais riscos. No entanto, acreditamos que outros testes deverão ser realizados para monitorar o nível de estresse destes animais", informa Neil D´Cruze.

Defesa

Procurado por e-mail, o CT F nos respondeu, por meio de Carolyn Lawe Smith, da empresa Tower Marketing. Ela declarou que o CTF é um dos líderes em pesquisa e conservação das tartarugas marinhas verdes e que é lamentável ver o alto nível de sensacionalismo que a WSPA aplica em suas declarações e campanhas contra o criatório. "Há fatos sobre o CTF, contrariando muitos, que mostram nosso trabalho positivo na pesquisa e conservação", ressalta.

Ela destaca que o CTF assumiu voluntariamente o compromisso de uma revisão de suas operações por uma equipe de avaliação independente, em dezembro de 2012 e anexa à resposta um comunicado oficial à imprensa sobre os resultados da avaliação e um documento com perguntas e respostas, onde refuta muitas das alegações feitas pela WSPA.

Carolyn informa, ainda, que o CTF segue práticas de criação internacionalmente aceitas, adotando recomendações científicas que determinam o número de tartarugas por metro quadrado. Diz, também, que a avaliação, realizada em dezembro último, encontrou a qualidade da água nos tanques principais em que as tartarugas estão alojadas muito boa.

No que diz respeito à densidade de estocagem, o relatório reconhece que, na criação intensiva, a densidade é alta, mas não é um motivo de preocupação por si só. Ela completa que, durante a alimentação, os animais ficam agregados e a densidade pode parecer mais elevada. Segundo suas informações, recentemente foram construídos novos tanques de concreto que irão fornecer um bom lugar para observar e avaliar diferentes taxas de alimentação e densidade, para referência futura.

Também afirma que, como uma organização de pesquisa e conservação, interage e educa mais de 200 mil pessoas a cada ano sobre a vida marinha, especialmente as tartarugas marinhas. Destaca que 150 trabalhos de pesquisa sobre o CTF já foram produzidos, além de estágios educacionais e parcerias de investigação. Agrega, por fim, a libertação de mais de 31 mil tartarugas na natureza, e as provas reunidas de aumento do número de tartarugas que retornam ao ninho nas Ilhas Cayman.

O comunicado à imprensa, destaca que está agindo em relação às recomendações da inspeção de dezembro de 2012. Ainda segundo o comunicado, uma fonte legal de carne de tartaruga ajuda na prevenção da caça ilegal na natureza e que não foi encontrada nenhuma evidência de deformidades congênitas entre a população do CTF e que o processo é humano e higiênico.

MARISTELA CRISPIM
EDITORA DE REPORTAGEM

Tamar é referência em ações de conservação

No Brasil, as tartarugas marinhas contam com o Projeto Tamar desde 1980. Uma das mais bem-sucedidas experiências de conservação marinha, serve de modelo para outros países, sobretudo porque envolve as comunidades costeiras diretamente em suas ações.

Pesquisa, conservação e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção, inclusive a verde, são as principais missões do Tamar, que protege cerca de 1.100 Km de praias, por meio de 23 bases mantidas em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso, no litoral e ilhas oceânicas, em nove Estados brasileiros.

"O Tamar conseguiu, ao longo de sua trajetória, trazer benefícios para as pessoas das comunidades costeiras que no passado abatiam as tartarugas e coletavam os ovos (uso direto), gerando oportunidades de trabalho. Hoje são cerca de 1.300 pessoas que asseguram seu sustento através de atividades com as tartarugas, desde a proteção na praia, até produção de artigos locais, passando pelos centros de visitantes e educação ambiental. Portanto, no Brasil, as tartarugas valem mais VIVAS do que mortas", afirma Maria Angela Azevedo Guagni Dei Marcovaldi, conhecida como Neca, que é coordenadora nacional de Conservação e Pesquisa do Projeto Tamar / Fundação Pró-Tamar.

A expressão Tamar (Tartaruga Marinha) designa o Programa Brasileiro de Conservação das Tartarugas Marinhas, executado pelo Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas (Centro Tamar), vinculado à Diretoria de Biodiversidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). O Projeto é co-administrado pela Fundação Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas (Fundação Pró-Tamar). Conta com patrocínio da Petrobras, apoios e patrocínios de governos estaduais e prefeituras, empresas e instituições nacionais e internacionais, além de ONGs.


Fonte:Diário do Nordeste

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