Quarenta e três cães morreram no incêndio de uma
casa de madeira no Boqueirão, bairro de classe média na região sul de Curitiba.
Outros 29 animais sobreviveram. A dona da casa, que vivia sozinha, escapou sem
ferimentos e foi levada à casa de parentes.
O fogo começou por volta das 3h da madrugada de
domingo (17). "A causa provável, segundo o Corpo de Bombeiros, foi uma
vela que caiu sobre material inflamável", disse Alexander Biondo, diretor
do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da prefeitura. Três carros
foram usados no combate às chamas, que destruíram o imóvel.
"A dona da casa fugiu pela janela, mas não
abriu a porta da casa. Com isso, os cães que estavam lá dentro não tiveram como
escapar das chamas", disse Biondo. Os animais que sobreviveram estavam do
lado de fora da casa e conseguiram se esconder. Nenhum deles se feriu.
O acúmulo de cães na casa era conhecido pela
prefeitura, Ministério Público e Spac (Sociedade Protetora dos Animais de
Curitiba), que movia ação judicial por maus-tratos contra a proprietária.
"Acumuladora
compulsiva"
"Ela se encaixa em todos os critérios que
definem um acumulador compulsivo", afirmou Biondo, que também é professor
de Medicina Veterinária da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e fez
pesquisas sobre o assunto em sua pesquisa pós-doutorado nos EUA.
Como o distúrbio ainda é pouco conhecido no Brasil,
um laudo psiquiátrico que faz parte da ação judicial atesta que a proprietária
dos cães é "mentalmente saudável". Nos Estados Unidos, o problema só
foi incluído na classificação de doenças mentais em janeiro deste ano.
"Ainda não temos profissionais aptos a
identificar o distúrbio nem legislação que nos permita entrar nas casas dos
doentes. Mas o caso dela é típico. Ela recolhia coisas que encontrava na rua,
no lixo, e levava para casa. Há meses teve água e eletricidade cortadas por
falta de pagamento", disse Biondo. Daí o uso da vela, provável causa do
incêndio, para iluminar a casa.
"Em geral, os portadores do distúrbio são
mulheres de alguma idade e solitárias. Elas fecham a casa, fogem do contato com
as pessoas. Com a progressão da doença, passam a acumular também animais e
jamais cogitam entregá-los à adoção", informou.
Prefeitura e Spac esperavam uma decisão judicial
que lhes permitiria entrar na casa e recolher os animais para a sexta-feira
(15). Mas a sentença não saiu.
"Cheiro horrível"
Vizinha da casa incendiada, a comerciante Mônica
Cristina Maximino, 47, disse que acordou na madrugada de domingo com gritos.
"Ela (a proprietária dos cães) saiu na rua berrando que a casa estava
pegando fogo. Logo vieram os bombeiros, mas aí todos os cachorros que estavam
lá dentro tinham morrido."
"Ela está nessa situação há sete anos. Ela
recolhe cães na rua e não dá um só para ninguém. Uma ONG vinha aqui e trazia
ração, mas não levava os cães. E a prefeitura dizia que não podia fazer nada do
portão para dentro", disse Mônica.
A situação incomodava os vizinhos. "O cheiro é
horrível, a sujeira atraía ratos. Acho que ela tem aquela doença dos
acumuladores compulsivos", afirmou a comerciante. Os 29 cães que
sobreviveram foram levados ao abrigo da Spac. A reportagem procurou a entidade,
mas não conseguiu contato até a conclusão deste texto, às 11h20.
Fonte: UOL
Fonte: UOL
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